Nomes populares
A erva mate é conhecida popularmente também como mate, chá mate, chá-do-paraguai, chá-dos-jesuítas, chá-das-missões, mate-do-paraguai, chá-argentino, chá-do-brasil, congonha, congonha-das-missões, congonheira, erva, mate legítimo, mate verdadeiro.
Outras denominações populares de menor disseminação incluem: erva-de-são bartolomeu, orelha-de-burro, chá-do-paraná, congonha-de-mato-grosso, congonha-genuína, congonha mansa, congonha verdadeira, erva senhorita.
As denominações indígenas para a erva mate são caá, caá-caati, caá-emi, caá-ete, caá-meriduvi e caá-ti.
Chimarrão - Origens
Lucia Porto
"Cuia de cristal ameaça a tradição"jornal Zero Hora
Mate amargo (sem açúcar) que se toma numa cuia de porongo por uma bomba de metal. Atribuem-se ao chimarrão propriedades desintoxicantes, particularmente eficazes numa alimentação rica em carnes.
A tradição do chimarrão é antiga. Soldados espanhóis aportaram em Cuba, foram ao México "capturar" os conhecimentos das civilizações Maia e Azteca, e em 1536 chegaram à foz do Rio Paraguay. No local, impressionados com a fertilidade da terra às margens do rio, fundaram a primeira cidade da América Latina, Assunción del Paraguay.
Os desbravadores, nômades por natureza, com saudades de casa e longe de suas mulheres, estavam acostumados a grandes "borracheras" - porres memoráveis que muitas vezes duravam a noite toda. No dia seguinte, acordavam com uma ressaca proporcional. Os soldados observaram que tomando o estranho chá de ervas utilizado pelos índios Guarany, o dia seguinte ficava bem melhor e a ressaca sumia por completo. Assim, o chimarrão começou a ser transportado pelo Rio Grande na garupa dos soldados espanhóis.
As margens do Rio Paraguay guardavam uma floresta de taquaras, que eram cortadas pelos soldados na forma de copo. A bomba de chimarrão que se conhece hoje também era feita com um pequeno cano dessas taquaras, com alguns furos na parte inferior e aberta em cima.
O comerciante Rômulo Antônio, dono da Casa do Chimarrão, em Passo Fundo, há mais de 20 anos, explica que os paraguaios tomam chimarrão em qualquer tipo de cuia. "Até em copo de geléia", diz. São os únicos que também têm por tradição tomar o chimarrão frio... O "tererê" paraguaio pode ser tomado com gelo e limão, ou utilizando suco de laranja e limonada no lugar da água.
Antônio explica outras diferenças. Na Argentina e no Uruguai a erva é triturada, ao contrário do Brasil, onde é socada. Nos países do Prata, a erva é mais forte, amarga, recomendada para quem sofre de problemas no fígado.
Os dez mandamentos do chimarrão
Segundo PÉRCIO DE MORAES BRANCO, colaborador do “Tchê”, o hábito do chimarrão, para ser apreciado devidamente, requer a obediência a certos princípios.
I. Não peças açúcar no mate
O gaúcho aprende desde piazito que e por que o chimarrão se chama também mate amargo ou, mais intimamente, amargo apenas. Mas, se tu és dos que vêm de outros pagos, mesmo sabendo, poderás achar que é amargo demais e cometer o maior sacrilégio que alguém pode imaginar neste pedaço de Brasil: pedir açúcar. Pode-se pôr na água ervas exóticas, cana, frutas, cocaína, feldspato, dólar, etc., mas jamais açúcar.
O gaúcho pode ter todos os defeitos do mundo, mas não merece ouvir um pedido desses. Portanto, tchê, se o chimarrão te parece amargo demais, não hesites; pede uma Coca-Cola com canudinho. Tu vais te sentir bem melhor.
II. Não digas que o chimarrão é anti-higiênico
Tu podes achar que é anti-higiênico pôr a boca onde todo mundo põe. Claro que é. Só que tu não tens o direito de proferir tamanha blasfêmia em se tratando do chimarrão. Repito: pede uma Coca-Cola com canudinho. O canudo é puro como água de sanga (pode haver coliformes fecais e estafilococos dentro da garrafa, não nele).
III. Não digas que o mate está quente demais
Se todos estão chimarreando sem reclamar da temperatura da água, é porque ela é perfeitamente suportável por pessoas normais. Se tu não és uma pessoa normal, assume e não te fresqueies. Se, porém, te julgas perfeitamente igual às demais, faz o seguinte: vai para o Paraguai. Tu vais adorar o chimarrão de lá.
IV. Não deixes um mate pela metade
Apesar da semelhança que existe entre o chimarrão e o cachimbo da paz, há diferenças fundamentais. Com o cachimbo da paz, cada um dá uma tragada e passa-o adiante. Já o chimarrão não. Tu deves tomar toda a água servida, até ouvir o “ronco” da cuia vazia. A propósito, leia o mandamento seguinte.
V. Não te envergonhes do “ronco” no fim do mate
Se, ao acabar o mate, sem querer fizeres a bomba “roncar”, não te envergonhes. Está tudo bem, ninguém vai te julgar mal-educado. Este negócio de chupar sem fazer barulho vale para Coca-Cola com canudinho, que tu podes até tomar com o dedinho levantado.
VI. Não mexas na bomba
A bomba do chimarrão pode muito bem entupir, seja por culpa dela mesmo, da erva mate ou de quem preparou o mate. Se isso acontecer, tens todo o direito de reclamar. Mas, por favor, não mexas na bomba. Fale com quem te ofereceu o mate ou com quem te passou a cuia. Mas não mexas na bomba, não mexas na bomba e, sobretudo, não mexas na bomba.
VII. Não alteres a ordem em que o mate é servido
Roda de chimarrão funciona como cavalo de leiteiro. A cuia passa de mão em mão sempre na mesma ordem. Para entrar na roda, qualquer hora serve, mas, depois de entrar, espera sempre a tua vez e não queiras favorecer ninguém, mesmo que seja a mais Prendada Prenda do Estado.
VIII. Não “durmas” com a cuia na mão
Tomar mate solito é um excelente meio de meditar sobre as coisas da vida. Tu mateias sem pressa, matutando, recordando... E às vezes, te surpreendes até imaginando que a cuia não é cuia, mas o quente seio daquela chinoca morena faceira que apareceu no baile do Gaudêncio... Agora, tomar chimarrão numa roda é mui diferente. Aí o fundamental não é meditar e sim integrar-se à roda. Numa roda de chimarrão, tu falas, discutes, ris, xingas, enfim, tu participas de uma comunidade em confraternização. Só que esta tua participação não pode ser levada ao extremo de te fazer esquecer da cuia que está em tua mão. Fala quando quiseres, mas não te esqueças de tomar teu mate, que a moçada tá esperando.
IX. Não condenes o dono da casa por tomar o primeiro mate
Se tu julgas o dono da casa um grosso por preparar o chimarrão e tomar ele próprio o primeiro, saibas que o grosso és tu. O pior mate é o primeiro, e quem o toma está te prestando um favor.
X. Não digas que o chimarrão dá câncer na garganta
Pode até dar. Mas não vais ser tu, que pela primeira vez pegas na cuia, que irás dizer, com ar de entendido, que o chimarrão é cancerígeno. Se aceitaste o mate que te ofereceram, toma e esquece o câncer. Se não der para esquecer, faz o seguinte: pede uma Coca-Cola com canudinho que ela... etc., etc.
Como preparar o chimarrão
1. Coloque erva mate verde em 2/3 da cuia.
2. Tape com a mão ou com papel firme a boca da cuia, inclinando-a para ajeitar a erva, que deve ficar assentada de um lado só, deixando um espaço vazio.
3. Bata suavemente, com a ponta dos dedos, na superfície externa da cuia, no lado em que a erva mate está assentada, para que o pó mais fino se desloque para o fundo do porongo.
4. Coloque novamente a cuia na posição vertical, com suavidade, para que a erva mate não caia para o lado.
5. Despeje um pouco de água morna ou fria para umedecer e inchar a erva, e aguarde alguns instantes.
6. Coloque a água quente, tendo o cuidado de não deixá-la ferver. O melhor é respeitar o aviso da chaleira, que começa a chiar aos 80º.
7. Introduza a bomba no fundo da cuia, apoiada na erva, mantendo o bocal fechado com o dedo polegar, até assentá-la bem.
8. Quando a infusão acabar, deve-se acrescentar mais água. A operação pode ser repetida até que o chimarrão deixe de espumar, sinal de que a erva já enfraqueceu.